Algo no teu olhar, no teu falar, no teu agir
Reteve minha atenção uma primeira vez.
Sorrisos à distância, palavras trocadas
Primeiras interações, primeiras seduções
– Proximidades
Amigos comuns, um almoço, um café
Encontros em bando, cinema, mesa de bar
Uma conversa mais longa, descobertas, olhares
Primeiros risos, primeiros planos
– Afinidades
Conversas constantes, presença recorrente
Jantares, confidências, desejos
Epifanias de espíritos afins
Primeiros toques, primeiros prazeres
– Intimidades
Risos só nossos, alheamento dos demais
Ânsia constante por nos vermos sós
Euforias de ardor e afeto
Primeiras angústias, primeiros ciúmes
– Cumplicidades
E então algo se quebrou
Desconfortos, incompreensões
Frustrações, indisponibilidades
Primeiros silêncios, primeiras negativas
– Saciedades
E veio um afastar-se sem retorno
Sem motivo, sem despedida
De cumprimentos corteses à distância
E de percepção de amigos constrangidos.
E do amor que era nosso
Que poderia ter sido todo teu
E continuou a ser só meu.
E a vontade de desistir de procurar
E o impulso de continuar a tentar…
Que venham outras, poucas, muitas.
Que se repitam as primeiras, mas não as últimas
De cada coisa, de cada momento
Até o dia em que a busca termina.
Cláudio de Lima
fevereiro de 2022
(heterônimo de Leandro Gonsales Ciccone)