CORPORE

Há um corpo para cada espírito,

Para todo caráter, toda natureza;

Matéria que exprime mais do que responde

Natureza que revela mais do que sublima.

 

Há aqueles para quem o corpo é obstáculo,

Penhasco escarpado a bloquear a jornada.

Outros para os quais o corpo é presença,

Tesouro sensorial que desafia a finitude.

Alguns para os quais o corpo é instrumento,

Marionete de pulsões por vezes inconfessáveis,

Repositório de vícios e torpezas nefandas.

Tantos ainda para quem o corpo é prisão,

Cela diminuta de solitárias penas,

Confinamento exíguo de perdidas liberdades.
 

E há aqueles para quem o corpo é possibilidade

– extensão da vontade, projeção do sonho, matéria viva –

Apenas estes são verdadeiramente humanos.

 

imagem CORPORELeandro Gonsales Ciccone

12 de maio de 2018

FAIRY TALES

Pedido de criança se ajeitando na cama

Abraçada ao bicho de pelúcia preferido

Torcendo e puxando os punhos do pijama:

CONTA UMA HISTÓRIA? (vezes sem par repetido)

 

E lá se vão…

Caminhos de migalhas e casinhas de açúcar

(sugar-sugar, oh, honey-honey)

E casinhas de madeira e de palha a voar

(lobo mau, lobo mau, lobo mau)

E torres de castelo e sonecas de princesas

(wake up, little Suzy, wake up)

E bosques e perigos pela estrada afora

(dentes tão grandes, tão grandes, tão grandes)

E pés de feijão terminando em gigantes

(cuidado João, cuidado João)

E carruagens de abóbora e sapatinhos de cristal

(biptbopti, biptibopti, biptibopti-bum)

E botas com gatos em palácios de marqueses

(viver una vida loca, viver una vida loca)

E sete caminhas e minas de diamantes

(eu vou, eu vou, eu vou)

E o sol escaldante, e o frio congelante

(let it go, let it go)

 

E as histórias que se confundem nos ouvidos

E os olhos que se fecham, pelo sono vencidos

E os passos que se afastam pisando sem ruído

Para que os sonhos não sejam interrompidos…

 

imagem FAIRY TALES

Juan Carlos Alargón

03 de maio de 2018

(Leandro Gonsales Ciccone)