DECORUM

Contempla, guerreiro, do promontório do mundo

O campo de batalha que se estende diante de ti.

Exércitos que se enfileiram

Tropas que tomam posições de combate.

E aqui estás, só.

Um homem contra uma multidão

– e não há quem questione as razões de uma guerra tão desleal.

.

Que fazer?

Sentes já um pânico a tomar conta de ti

Um pavor incerto percorre as tuas veias

Um tremor incontido abala todo o teu corpo.

E tudo em ti agora são nervos, são músculos, e sangue

E um só bater descompassado.

A lâmina que tens na bainha, amigo,

Fere-te mais do que ao inimigo.

Inda assim, desembainhai!

Que te ergas diante de teus próprios olhos

Com a bravura que traz o destemor.

.

Bramindo, sedentos, aí vem os estandartes

– rubros do sangue de tantos outros

– rubros do sangue de tantos quantos

à sua passagem se ergueram.

E cá os espera, resoluto.

No teu pânico encontrastes a serenidade

Na tua solidão encontrastes a tua causa

A razão por que lutas, o moto pelo qual te bates.

Por essa causa que enfim levas no peito

Que não te apavores, nem recues, nem desertes.

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Do promontório da tua vida contemplas, guerreiro

O desafio – e a morte – que se estendem diante de ti.

Um frêmito de decisão teu ser então percorre

Dulce et decorum est pro officium mori

.

Arthur Edward Collins

heterônimo de Leandro Ciccone

junho de 1997