CONVÍVIOS

Tempos de frustrações.

Amores que não sobrevivem ao calendário
Amizades que se esvaem ao primeiro silêncio
Relações intensas – mas breves
Aproximações miraculosas – mas fugazes

Compromissos e juras que já saem falsos dos lábios
Solidariedades e apoios que já surgem ausentes
Devoções vazias, simulacros de empatia

Discursos ousados de promessas vãs
Gestos ternos de atenções calculadas
— teatralidades palavrosas

Culpa nossa.

Pela ansiedade de carências inconfessadas
Na babel de sensações buscamos o inefável
Sem atinar para o que nos escapa

A tristeza de uma única lágrima
A alegria de um único sorriso
O afeto de um único abraço

Num tempo de excessos e encenações
O coração se revela nas coisas mais simples

Leandro Gonsales Ciccone

05.08.2019

TÂNATOS

Diante do precipício a alma se inquieta
No impulso final a projetar-se no vazio
E hesita.

Momento para que intervenham
Forças vitais em conflito
Nas palavras de um anjo
Num frêmito de reflexão
Num lampejo de consciência

Pouco importa o meio.

Que tragam difusas lembranças
De afetuosos instantes
De orgulhosas conquistas
De imprevistos encontros
De eufóricos projetos
De serenas interações

Que renovem a esperança
– verdadeiro motor da existência
Que resgatem a confiança
– poderoso antídoto contra o fracasso
Que restaurem a crença
Na sutil dinâmica do imponderável
– nas oportunidades que nascem
A cada despertar, a cada amanhecer

Diante do precipício a alma se inquieta
No impulso final a projetar-se no vazio
E recua.

Retrocede seus passos de volta à estrada
Aos caminhos que surgem
Às trilhas que surpreendem
Às veredas que se abrem
Aos inevitáveis tropeços
Da jornada que recomeça.

Leandro Gonsales Ciccone

30.07.2019

(para Tiago Aguiar)